segunda-feira, 13 de junho de 2011

Parabéns Mestre Pessoa!

Não sou nada
Nunca serei nada. 
Não posso querer ser nada. 
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
...

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.  
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,  
E não tivesse mais irmandade com as coisas  
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua  
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada  
De dentro da minha cabeça,  
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

...


Falhei em tudo.  
Como não fiz propósito nenhum, 
talvez tudo fosse nada.  
A aprendizagem que me deram,  
Desci dela pela janela das traseiras da casa, 
 Fui até ao campo com grandes propósitos.  
Mas lá encontrei só ervas e árvores,  
E quando havia gente era igual à outra.  
Saio da janela, sento-me numa cadeira. 
Em que hei-de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou? 
Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa! 
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos! 
Génio?



Tabacaria de Álvaro de Campos


Hoje é o aniversário de Fernando Pessoa e como tal decidi publicar um dos meus poemas favoritas de um dos seus heterónimos. O que está em cima é só uma pequena parte do maravilhoso poema que ele escreveu. Aconselho a sua leitura porque é realmente muito bonito! Se quiserem partilhar o vosso favorito ou opinar sobre este, deixem um comentário!!  :D  Boas Leituras!

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